terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O poeta e a poesia

Rosto feminino, Gino Hollander



Vai... Extravasa todo seu sentimento
tece a folha, esta que lhe confia.
Não se extravie em vãos momentos,
grite antes que tal ato se transforme em abulia.

Situe-se nas quimeras, aos sons de teus estertores
pause na reflexão ida do zazonamento.
Lança-te no mais profundo, ou se te faz feliz nos arredores
da gaveta esquecida das mágoas revividas, os tormentos.

Deixa-te peregrinar por entre seus traços
que a lágrima abrase tua alma,
permeie pela face e desfaleça em teus cansaços
e destarte concilie a harmonia da calma

Escassa é a vontade que te decifrem
Que importam todas as regras e críticas?
Que importam as sintaxes e rimas?
Técnicas... Todas essas são miragens.

Em seu delineamento meu corpo toma forma
em punho a pena, em ponta teus versos se transforma.
Vai poeta quero me fazer graciosa teoria
e da tua personalidade magnânima poesia.








sábado, 12 de novembro de 2011

Austro

Mar Azul, Joseph Tuner



Vou desempenhando com recursos
meneando em anseios os rascunhos,
dos quais em isoladas ocasiões
nomeio sensatas relações.

Afloro, em tempo suave a lembrança.
Em sítio povoado na sonata da esperança.
Nos ecos da mais tenra infância...

Depuro no mais azul profundo.
No abissal, entre o intermediário.
Num austro qualquer, além mundo
Temporária vontade, adágio.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Este mundo não é meu...

O caçador, Joan Miró



Perco-me da sensação de ter me achado
Em suas significações de vocábulos
Subentendi mentos da metafísica abortado
Tais fonemas nublam-se e eu necessite de óculos

Espargindo notas densas do meu silenciar
E das íris que haviam grandioso brilho, opacam-se

O corpo vaga á procura obsoleta
A mente inclina-se ao torpor
Saudades em forma de ampulheta
Diante da minha fronte e com louvor

Mundo vasto, terra de ninguém, hangar de almas irrecuperáveis
Bradam loucamente á outrem, eis o egocentrismo artefato guarda-móveis

Tenciono em espírito e carne o alinhamento
Este mundo não é meu e me arde frente à este tempo

"Cada vez me convenço mais de que este mundo não me pertence, tão pouco faço parte dele e sinto-me como um sobreposto... Esperando a hora, há que zarpar de um porto..."

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Vislumbres

Campo de papoulas, Tânia Pagliato


Vislumbres

Em uma vasta extensão de terra, onde a vista não alcança
árvores frondozas resultando em densa vegetação.
Onde só se ouvem sons de pássaros e a brisa leve da janela que perpassa.
Que meus passos sintam a terra úmida e meu corpo compreenda esta sensação.

Que a casa seja simples, que o jardim seja livre.
Que o momento seja estável e a dor findável.
Que a chuva lave a alma, e a louça espaireça seu azinhavre.
Que a voz seja constante melodia, suave e amável.

Mas que tenha uma varanda... E nela cadeiras confortáveis
onde a gente nem sinta o corpo, este flutua...
um bom chá de jasmim e comestíveis.
Há de ter uma horta, semear a esperança futura...
Há de germinar meu pão e eu colher quimeras inesquecíveis.

Ler meus livros, escutar minhas músicas,
rabiscar em papiros, arriscar em metafísica
e de tarde contemplar o por do sol
demorar-se mesclando-me com o arrebol

A dor das coisas que não existem, mas que persistem...
O silêncio tão sentido, a vaga idéia de paz, metáforas...
Pedacinhos de letras ou palavras relembrando o anteontem.

Vislumbres...

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Outubro

Carlos Sorolla



"Um resumo do mês de Outubro
mas não em minhas palavras,
mas que se faça as minhas,
por onde eu prosseguir..."

Metade
Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

[...]

Amém...

domingo, 28 de agosto de 2011

Monologar

Passadeira, Pablo Picasso


Não era para escrever sobre mim, nunca foi a intenção, não sou boa com textos.
Algum tempo montei este blog, rabisquei alguns... Desfiei outros...
Como eu diria, um monologar. Rabisco do que avisto, sinto e se me oculto em sinônimos misturados aos antônimos é porque ainda gosto de certa privacidade, acredito que um blog não necessariamente tenha que estar explícito tudo o que autor pensa, e sim nuanças do que ele "pensa que pensa”. E o pensar que "pensa" é divino, faz você ter uma total capacidade de observar, porque fica sempre a indagação do "mas será?”

" O perder-se” W.F. Dizia que...

“O perder-se... A mais profunda forma de encontrar-se...”

[...]

"A larva: O primeiro estágio do desenvolvimento, independente e móvel, do ciclo de vida da maioria dos invertebrados, anfíbios e peixes."

[...]

Talvez eu tenha sim certa ignorância no saber...
Há tantas coisas a aprender, escrevo com singeleza, confesso não saber de regras e técnicas da poesia, confesso também ser rude para com as palavras, li poucos livros literários. Mas tenho em mim, a poesia. Isso pode não ser tão grandioso para alguns, sou simples, minha vida sempre foi simples, nunca fui de almejar grandes sonhos, talvez por ter pés bem enraizados no chão, mas isso não faz de mim, uma pessoa sem sentimentos por se tratar de uma simples pessoa tentando aprender a vida.
Sei que existem várias formas de se "olhar" uma poesia, mas a mim, há só uma, e mesmo com regras e técnicas, essas métricas, sonetos, rimas, sons, sonoridades, sílabas...

E me pergunto, será que se eu estudar tudo isso perderei a capacidade de sentir?
Porque olhando por esse lado eu não leria mais uma poesia com a alma.
Leria com os olhos... Analisando linhas, formas etc.
E se for assim prefiro ficar à ignorância, parar à margem, ficar somente com o meu sentir, pode ser retrógrada a forma como penso, mas vejo a poesia o "lidar”

Há diferentes sinônimos para o lidar mas aqui ele equivale ao tratar pessoas, formas delicadas, educadas, sem o termo obrigação, doar-se...

Ao grande W.F. o meu profundo respeito, por entender as coisas mais pequeninas e mais importantes da vida.

[...]

Já outrem, o meu abaixar a cabeça, porque a sabedoria está não só na instrução, e sim dentro da alma.

Algumas palavras ferem profundamente e temos o silêncio como resposta, não como revide, mas sim, por nos acharmos sem respostas, talvez eu seja sim uma larva incapaz, uma pupa a ladrar bobagens...


Talvez...

“Algumas palavras, por mais que sejam gritantes
não devem manchar uma folha de papel.

E sim ficarem guardadas no ínfimo de uma gaveta d'alma
Podem ser sim arrefeçantes... Outrora ter o gosto à fel
Mas com certeza guardam a sabedoria com a calma.


Perfeito sem entremeios à verdade
há uma pureza singela
nas idéias e nos meios
nos atos que se faz lutar por esta...
Espreitando pelas arestas da idade.”

Luciana D.




sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Coisa amar

Casal se admirando, Marc Chagall



Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.

Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.

Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como doi

desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.

Manuel Alegre

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Auroras da minha infância

Pipas, Juliana Duclós



Auroras da minha infância
Aromas da lembrança
Sabores da saudade
Sombreada por acácia
Nostalgia da idade

Pique-esconde
Pega-ladrão
Passa-anel
Queimada
Casinha
Carrinho
Vaga-lume
Pegador
Pula-corda
Correr na calçada...


Limonada
Bolinho de chuva
Goiabada
Pão com manteiga
Mingau
Café com leite
Macarronada
Pipoca
Picolé
Doce de leite...



Eram flores coloridas
árvores das mais frondosas.
Repousar nas almofadas,
das tardes esplendorosas...

E no cair da noite
exaurida e de mansinho,
aconchegada por minha avó
eu dormia rapidinho...

No tempo em que eu era criança...
O mundo era cor-de-rosa,
não haviam tristezas.
A única tarefa era comer as leguminosas.

No tempo em que eu era criança...
Podíamos colher diamantes no céu,
fruta rara era framboesa.
Por-do-sol era fogaréu.

No tempo em que eu era criança...
Ah...! Quem me dera.
Ter um "assunto" com o Sr Tempo,
fazer um contrato, permuta.
Negociar esta quimera.


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Solilóquio

Springtime-Giverny-1886, Monet




Solilóquio

A origem da tela, francesa.
As pinceladas de um gênio.
Um mestre do impressionismo,
Claude Oscar Monet.

O Blog um meio.
As páginas em branco
Rascunhos, rabiscos
acasos a externar.

A casa simples,
mesclas de cores e nuanças ao redor
singela clara ensolarada.

O pleito incógnito,
silente andrógino
à postergar.

A música o baile,
letras e sonatas solúvel solitude
breve solilóquio.
Análogo.
Em pormenores
Calar.

sábado, 6 de agosto de 2011

Sonho

Van Gogh


Sonho


E se eu disser...
Que existe uma brisa,
que essa brisa, leva a semente,
que levita e cai sobre a terra.
Que a terra acolhe e fecunda,
que de tão fecunda germina
como a escrita de uma poetisa.

E se eu disser...
Que do instante,
ecoam palavras que do silêncios
se tornam ocultas, faz-se o basto.
Somando, permeiam anelanante
e desse anelo se torna vasto
e com sussurros tem-se cantante.

Se eu proferir...
Um sonho,
indagar a beleza quão um cristal puro,
crepuscular o meu horizonte,
acordar com indícios da primeira aurora,
colocar a minha veste mais pomposa
e me fazer de linda diante de sua fronte.

aceitarias?

Como a brisa fez-se levitar a semente,
como a terra que acolhe e fecunda,
sem pestanejar ou acanhar a sua mente
em escrita desenvolve-se essa moça.
Nos conceitos ela rabisca docemente
dos segredos que murmuram... A sua boca.

Dedicada à J.V.P.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Letras mal traçadas para o recolhimento da alma







Perceber sua melodiosa sinfonia e voar...
Para bem longe, cada vez mais alto mais distante, voar.
Que importa os pensamentos alheios?
Que mérito tem seus julgamentos?
Deixar que esta insana profusão de palavras declame
sem me molestar com o que vão dizer ou vão pensar...


Levitar, apenas levitar.
Imaginar-se tão leve como esta sinfonia.
Enternecer-se feito os relógios moles de Dali...
Sorver a garoa ácida da noite.
sentir o vento melancólico roçar a face.


Erguer-se cada vez mais alto.
Para além das nuvens sombrias que a frente fria traz...
Ir ter com as estrelas, com o céu infinito.
Ir para um mundo distante, lá acima bem mais,
Mais que o cosmos ou qualquer buraco negro.
Cada vez mais alto, onde não sentir o ar, faz-me oxigenar...


Encher os pulmões deixar que o bronquíolos explodam,
em agonia como um grito de Munch...
Deixar que a notoriedade dessa falta de coesão,
essa falta de nexo, faça eclosão nas cores de Monet...


Infundir os plexos soltos,
como as telas de Magritte e afundar...
Fazer ir a fundo nos sonhos da árvore de Mondrian...
sentir a alma desnuda, viajar, viajar andar por...


A disposição das telas se dá a interpretação de Céu e Inferno, Divina Comédia, Dante Alighieri.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Se

Uma mulher, Monet




Se





Se consegues manter a calma

quando à tua volta todos a perdem

e te culpam por isso.

Se consegues ter confiança em ti

quando todos duvidam de ti

e aceitas as suas dúvidas.

Se consegues esperar sem te cansares por esperar

ou caluniado não responderes com calúnias

ou odiado não dares espaço ao ódio

sem porém te fazeres demasiado bom

ou falares cheios de conhecimentos.

Se consegues sonhar

sem fazeres dos sonhos teus mestres.

Se consegues pensar

sem fazeres dos pensamentos teus objetivos.

Se consegues encontrar-te com o Trunfo e a Derrota

e tratares esses dois impostores do mesmo modo.

Se consegues suportar

a escuta das verdades que dizes

distorcidas pelos que te querem ver

cair em armadilhas

ou encarar tudo aquilo pelo qual lutaste na vida

ficar destruído

e reconstruíres tudo de novo

com instrumentos gastos pelo tempo.

Se consegues num único passo

arriscar tudo o que conquistaste

num lançamento de cara ou coroa,

perderes e recomeçares de novo

sem nunca suspirares palavras da tua perda.

Se consegues constringir o teu coração,

nervos e força

para te servirem na tua vez

já depois de não existirem,

e aguentares

quando já nada tens em ti

a não ser a vontade que te diz:

"Aguenta-te!"

Se consegues falar para multidões

e permaneceres com as tuas virtudes

ou andares entre reis e pobres

e agires naturalmente.

Se nem inimigos

ou amigos queridos

te conseguirem ofender.

Se todas as pessoas contam contigo

mas nenhuma demasiado.

Se consegues preencher cada minuto

dando valor

a todos os segundos que passam.

Tua é a Terra

e tudo que nela existe,

e mais ainda,

Tu serás um Homem, meu filho!

( tradução de Vitor Vaz da silva do poema "IF" de Rudyard Kipling )

"Aguenta-te!!"

sábado, 21 de maio de 2011

Anjos de luz

Lágrima de São João, Roger Van der Weyden



Anjos de luz


Elas estão aí, sem lugar fixo ou próprio.
São as três virtudes teologais, a esperança do mundo
Mas qual esperança ofertamos a estas?
Almas imaculadas, doces, simplórias


Vagueiam pela calçadas, em meio as ruas,
tanto frias, tão geladas.
Suas almas parecem estar nuas.
Uma meiguice, uma doçura pronta a ser lapidada.


Elas estão por aí...
Perambulando entre os carros,
Rogando com os olhos,
pois a boca já não sabe mais como pronunciar.


"Um pouco de alimento!?
E se o senhor puder me dar ?...
Um tiquinho de ternura!? Um tiquinho de alento..."


Corpinhos frágeis defrontam ou melhor aceitam o que esta cidade as "ensinam".
O conjunto dos pensamentos e concepções de um grupo social...
Sim! As Idéias... E mercam seus destinos.


E nesse espaço de tempo a "Vida"aos atos de outrem,
vão se moldando vão aprendendo.


Quisera ter um edifício do tamanho do mundo
Resguardar estes anjinhos de luz...
Quisera nutrir, sustentar e sanar com carinho fecundo.


" Pai, perdoa-lhes... eles não sabem o que fazem! "


http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estatuto_crianca_adolescente_3ed.pdf

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O tempo e meus Templos


O tempo e meus Templos


Das etapas,
o desenvolvimento
tão contínuo e obrigatório
singular e tão preciso.
O tempo e meus Templos

Das moradas,
em meio à fartura
no meio de regras,
em tantas conjecturas,
em cenários congruentes.

Dos preceitos,
a inquietude no saber
entre interrogativas,
temas, debates
a decifração, conhecimento.

Dos indivíduos
sempre complexos,
uma infindável lista de variações.
Estes sempre beirando a margem
a linha tênue do lidar.

E da vida
ainda que cedo,
mesmo que breve,
até o presente
simples crisálida.



quarta-feira, 18 de maio de 2011

Mercadores

Valdrada, cidades invisíveis




Transeuntes na pista da conquista consabidas
Soltos meros corpos diáfanos
Mercam para vender a retalho sábios cébidas

domingo, 10 de abril de 2011

Alma iluminada



Sobre quimeras e horizontes,
em gestos e palavras.
Num mundo tão vasto,
me deparei com sua fronte...

Na vida um segredo,
nos dias um contrato.
Em semanas o meu medo,
em um ano o auto-retrato.

Fluência em dizeres,
almas em desatino,
consumado em prazeres.
Dois Sóis e um caminho...

Numa terra do nunca,
contornada por moinhos,
perdidos entre memórias,
ávidos por um resquício.

A alma iluminada...
leva brilho a cada morada.
E esse cavalheiro,
com seus sonhos em permeios
cativou uma ragazza...

Chega manso todo dia,
com carinhos e afagos.
E se senta ao meu lado...
E se diz numa constância...
"Como a vida é doce...
E como é bom estar apaixonado..."

E com esse versinho,
tao singelo e pequenino,
presenteio ao meu adorado.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Bordighera, Monet




A mescla de cores em sua firmeza de ânimo
vibram em meados dos lusco fusco ou dias acinzentados
elevam o espírito numa luminosa nimbar magnânimo
brincam de cingir, flâmula em sua forma decantado

A leveza da brisa, o refrigério que ela nos dá
o outono chegando e a certeza do aconchego que vem deste
os aromas e sabores os encontros e amores
todos os momentos quiçá

O recolhimento o redescobrimento da alma
a reflexão divina a paz interior
a personalidade de quem fala
ao eco exterior

sexta-feira, 4 de março de 2011

Tantas palavras...

Navio naufragado à luz da lua, Caspar David Friedrich.


Tantas palavras
Que eu conhecia
Só por ouvir falar, falar
Tantas palavras
Que ela gostava
E repetia
Só por gostar

Não tinham tradução
Mas combinavam bem
Toda sessão ela virava uma atriz
``Give me a kiss, darling''
``Play it again''

Trocamos confissões, sons
No cinema, dublando as paixões
Movendo as bocas
Com palavras ocas
Ou fora de si
Minha boca
Sem que eu compreendesse
Falou c'est fini
C'est fini

Tantas palavras
Que eu conhecia
E já não falo mais, jamais
Quantas palavras
Que ela adorava
Saíram de cartaz

Nós aprendemos
Palavras duras
Como dizer perdi, perdi
Palavras tontas
Nossas palavras
Quem falou não está mais aqui

[...]

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Espelho

Refugiados, Lasar Segall



Dantes como nuvens a flutuar
pelos "sítios" além das montanhas
reflexos luminosos e intensos
seguem pelo ar e com o vento.


Janelas envolvidas por túnicas,
esclerais, íris de cor e de tons
magia de Deus, única.


Cristal de brilho abundante,
Véu, cortina, resguardadora.
Retina da vida, pelas câmaras soturnas,
desfragmador de sentimentos.


Orquestral de nuanças.
Maestria nos movimentos.
Seiva das inspirações.
índices do zazonamento.


espelho incandescente
mudo palavra oculta
célere
célula
magnificiente.



Poesia dedicada à J.P. Canteiro de vislumbres.


sábado, 19 de fevereiro de 2011

Incoativo

Moinho, Fernando Serrano




É incógnito divergir o possível
da disposição incólume, incolor ou incombustível...
Um simples projeto, uma condição primacial de um propósito.
O escrever, num vácuo, incoativo.

Ato de brincar com letrinhas,
nascem sinônimos, instantes, momentos.
Escarefica, nubla-se certezas, toldemos a razão!
Findamos o sofrimento!

Fica a angustia de tal ato.
Escrever não pode ser tão difícil e complicado.
O criar tem de ser leve, compacto e também ousado
Mas a "conta" que faz o axônio disto... Sem comentário....

Fica o desejo veemente, situações inusitadas mesclam as palavras
intempérie, interação, condição!!
E me pergunto será que é tao complicado assim ?
Discernir numa simples poesia ou rabisco uma erudição.

E assim vou traçando, rabiscando o que me aflinge,
na esperança de que uma idéia surja, num ímpeto novo,
com sinônimos antigos, decifrar a minha origem
uma espécie de comunhão comigo mesma, um renovo.

Sim, um ramo que brota de um toco, formando assim nova árvore
Não desisto!! Pleitearei uma nova fórmula....
Se minha sensibilidade ainda existe, se me falta inspiração, mas a vontade persiste...
Farei de uma regra, um exercício contínuo para a alma.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Saudade

Lou Borghetti



Em um porfiar sem destino certo numa aresta qualquer
raios de sol já não passam mais, janelas gastas, rachadura na pintura
todo teor talvez perdido em letra mal traçada num papiro à sombra de um bem-me-quer.


Das paredes apenas memória duma cor vibrante agora já opaca.
Recinto lacrado ainda se ouvem os sons, tempo passado ainda uma espécie de imagem ilusória
corredores silenciosos, vozes que dormem dum tempo, os ecos da época.


Em piso talhado a mármore marcas da mobília que ali continha
o cheiro, aroma, o perfume ainda prendem a lembrança
quão ansiava uma epopéia, talvez uma prosa ou uma simples quimera.


Saudade...Lembrança melancólica e ao mesmo tempo suave de pessoa, coisa distante ou extinta.