domingo, 28 de agosto de 2011

Monologar

Passadeira, Pablo Picasso


Não era para escrever sobre mim, nunca foi a intenção, não sou boa com textos.
Algum tempo montei este blog, rabisquei alguns... Desfiei outros...
Como eu diria, um monologar. Rabisco do que avisto, sinto e se me oculto em sinônimos misturados aos antônimos é porque ainda gosto de certa privacidade, acredito que um blog não necessariamente tenha que estar explícito tudo o que autor pensa, e sim nuanças do que ele "pensa que pensa”. E o pensar que "pensa" é divino, faz você ter uma total capacidade de observar, porque fica sempre a indagação do "mas será?”

" O perder-se” W.F. Dizia que...

“O perder-se... A mais profunda forma de encontrar-se...”

[...]

"A larva: O primeiro estágio do desenvolvimento, independente e móvel, do ciclo de vida da maioria dos invertebrados, anfíbios e peixes."

[...]

Talvez eu tenha sim certa ignorância no saber...
Há tantas coisas a aprender, escrevo com singeleza, confesso não saber de regras e técnicas da poesia, confesso também ser rude para com as palavras, li poucos livros literários. Mas tenho em mim, a poesia. Isso pode não ser tão grandioso para alguns, sou simples, minha vida sempre foi simples, nunca fui de almejar grandes sonhos, talvez por ter pés bem enraizados no chão, mas isso não faz de mim, uma pessoa sem sentimentos por se tratar de uma simples pessoa tentando aprender a vida.
Sei que existem várias formas de se "olhar" uma poesia, mas a mim, há só uma, e mesmo com regras e técnicas, essas métricas, sonetos, rimas, sons, sonoridades, sílabas...

E me pergunto, será que se eu estudar tudo isso perderei a capacidade de sentir?
Porque olhando por esse lado eu não leria mais uma poesia com a alma.
Leria com os olhos... Analisando linhas, formas etc.
E se for assim prefiro ficar à ignorância, parar à margem, ficar somente com o meu sentir, pode ser retrógrada a forma como penso, mas vejo a poesia o "lidar”

Há diferentes sinônimos para o lidar mas aqui ele equivale ao tratar pessoas, formas delicadas, educadas, sem o termo obrigação, doar-se...

Ao grande W.F. o meu profundo respeito, por entender as coisas mais pequeninas e mais importantes da vida.

[...]

Já outrem, o meu abaixar a cabeça, porque a sabedoria está não só na instrução, e sim dentro da alma.

Algumas palavras ferem profundamente e temos o silêncio como resposta, não como revide, mas sim, por nos acharmos sem respostas, talvez eu seja sim uma larva incapaz, uma pupa a ladrar bobagens...


Talvez...

“Algumas palavras, por mais que sejam gritantes
não devem manchar uma folha de papel.

E sim ficarem guardadas no ínfimo de uma gaveta d'alma
Podem ser sim arrefeçantes... Outrora ter o gosto à fel
Mas com certeza guardam a sabedoria com a calma.


Perfeito sem entremeios à verdade
há uma pureza singela
nas idéias e nos meios
nos atos que se faz lutar por esta...
Espreitando pelas arestas da idade.”

Luciana D.




sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Coisa amar

Casal se admirando, Marc Chagall



Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.

Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.

Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como doi

desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.

Manuel Alegre

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Auroras da minha infância

Pipas, Juliana Duclós



Auroras da minha infância
Aromas da lembrança
Sabores da saudade
Sombreada por acácia
Nostalgia da idade

Pique-esconde
Pega-ladrão
Passa-anel
Queimada
Casinha
Carrinho
Vaga-lume
Pegador
Pula-corda
Correr na calçada...


Limonada
Bolinho de chuva
Goiabada
Pão com manteiga
Mingau
Café com leite
Macarronada
Pipoca
Picolé
Doce de leite...



Eram flores coloridas
árvores das mais frondosas.
Repousar nas almofadas,
das tardes esplendorosas...

E no cair da noite
exaurida e de mansinho,
aconchegada por minha avó
eu dormia rapidinho...

No tempo em que eu era criança...
O mundo era cor-de-rosa,
não haviam tristezas.
A única tarefa era comer as leguminosas.

No tempo em que eu era criança...
Podíamos colher diamantes no céu,
fruta rara era framboesa.
Por-do-sol era fogaréu.

No tempo em que eu era criança...
Ah...! Quem me dera.
Ter um "assunto" com o Sr Tempo,
fazer um contrato, permuta.
Negociar esta quimera.


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Solilóquio

Springtime-Giverny-1886, Monet




Solilóquio

A origem da tela, francesa.
As pinceladas de um gênio.
Um mestre do impressionismo,
Claude Oscar Monet.

O Blog um meio.
As páginas em branco
Rascunhos, rabiscos
acasos a externar.

A casa simples,
mesclas de cores e nuanças ao redor
singela clara ensolarada.

O pleito incógnito,
silente andrógino
à postergar.

A música o baile,
letras e sonatas solúvel solitude
breve solilóquio.
Análogo.
Em pormenores
Calar.

sábado, 6 de agosto de 2011

Sonho

Van Gogh


Sonho


E se eu disser...
Que existe uma brisa,
que essa brisa, leva a semente,
que levita e cai sobre a terra.
Que a terra acolhe e fecunda,
que de tão fecunda germina
como a escrita de uma poetisa.

E se eu disser...
Que do instante,
ecoam palavras que do silêncios
se tornam ocultas, faz-se o basto.
Somando, permeiam anelanante
e desse anelo se torna vasto
e com sussurros tem-se cantante.

Se eu proferir...
Um sonho,
indagar a beleza quão um cristal puro,
crepuscular o meu horizonte,
acordar com indícios da primeira aurora,
colocar a minha veste mais pomposa
e me fazer de linda diante de sua fronte.

aceitarias?

Como a brisa fez-se levitar a semente,
como a terra que acolhe e fecunda,
sem pestanejar ou acanhar a sua mente
em escrita desenvolve-se essa moça.
Nos conceitos ela rabisca docemente
dos segredos que murmuram... A sua boca.

Dedicada à J.V.P.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Letras mal traçadas para o recolhimento da alma







Perceber sua melodiosa sinfonia e voar...
Para bem longe, cada vez mais alto mais distante, voar.
Que importa os pensamentos alheios?
Que mérito tem seus julgamentos?
Deixar que esta insana profusão de palavras declame
sem me molestar com o que vão dizer ou vão pensar...


Levitar, apenas levitar.
Imaginar-se tão leve como esta sinfonia.
Enternecer-se feito os relógios moles de Dali...
Sorver a garoa ácida da noite.
sentir o vento melancólico roçar a face.


Erguer-se cada vez mais alto.
Para além das nuvens sombrias que a frente fria traz...
Ir ter com as estrelas, com o céu infinito.
Ir para um mundo distante, lá acima bem mais,
Mais que o cosmos ou qualquer buraco negro.
Cada vez mais alto, onde não sentir o ar, faz-me oxigenar...


Encher os pulmões deixar que o bronquíolos explodam,
em agonia como um grito de Munch...
Deixar que a notoriedade dessa falta de coesão,
essa falta de nexo, faça eclosão nas cores de Monet...


Infundir os plexos soltos,
como as telas de Magritte e afundar...
Fazer ir a fundo nos sonhos da árvore de Mondrian...
sentir a alma desnuda, viajar, viajar andar por...


A disposição das telas se dá a interpretação de Céu e Inferno, Divina Comédia, Dante Alighieri.